Dose única de Nevirapina administrada intrapartum e neonatalmente comparada com a Zidovudina para a prevenção da transmissão vertical de VIH-1 em Kampala, Uganda: seguimento de 18 meses do ensaio aleatório do HIVNET 012
J. Brooks Jackson; Philippa Musoke; Thomas Fleming; Laura A. Guay; Danstan Bagenda; Melissa Allen; Clemensia Nakabiito; Joseph Sherman; Paul Bakaki; Maxensia Owor; Constance Ducar; Martina Deseyve; Anthony Mwatha; Lynda Emel; Corey Duefield; Mark Mirochnick; Mary Glenn Fowler; Lynne Mofenson; Paolo Miotti; Maria Gigliotti; Dorothy Bray; Francis Mmiro
Em 2002 mais de 800000 crianças desenvolveram infecção por VIH-1 através de transmissão vertical; 90% vivem em países de poucos recursos. Em países mais desenvolvidos, a transmissão vertical baixou drasticamente através do Pediatric AIDS Clinical Trials Group (PACTG) 076 Zidovudine regimen, dado à mãe durante a gravidez e trabalho de parto e à criança até às 6 semanas após o nascimento. Um regime deste género é demasiado complexo e caro para países de fracos recursos.
Em 1999, os autores publicaram dados de segurança e eficácia para aplicação curta de nevirapina realizada num ensaio de prevenção de VIH-1 perinatal no Uganda (HIVNET 012) quando 496 bebés eram seguidos até à idade de 14-16 semanas. Nos estudos actuais de segurança e eficácia os dados são de bebés seguidos até aos 18 meses de idade.
De Novembro de 1997 a Abril de 1999, 645 mulheres infectadas com VIH-1 em Kampala, Uganda, receberam aleatoriamente, nevirapina (313), zidovudina (313) ou um placebo (19) na altura do parto. Aos seus filhos foi dada terapia antiretroviral por um curto período pósnatal. Oito mães e oito bebés foram perdidos do seguimento antes do parto. Dos 619 recém-nascidos que os autores seguiram, 41 do grupo da zidovudina morreram aos 18 meses, 24 dos quais tinham VIH-1; 32 bebés do grupo da nevirapina morreram aos 18 meses, 16 dos quais estavam infectados com VIH. Sessenta e seis crianças do grupo da zidovudina e 39 do grupo da nevirapina estavam infectadas por VIH-1 ou morreram às 6-8 semanas. Aos 18 meses, 92 bebés do grupo da zidovudina e 63 do grupo da nevirapina eram VIH-1 positivas ou morreram. “Comparado com o regime da zidovudina”, os cientistas comunicaram, “o regime da nevirapina reduz o risco da infecção VIH-1 ou morte aos 18 meses em 37%”.
Quando o estado da infecção VIH-1 foi estratificado na idade 6-8 semanas, o Kaplan Meir estimou que a sobrevivência até aos 18 meses era semelhante nos dois grupos de tratamento. A sobrevivência estimada de 18 meses para bebés não infectados com VIH-1 às 6-8 semanas era de 92,2% para a zidovudina e 92,5% para a nevirapina. Para bebés diagnosticados com VIH-1 à idade de 6-8 semanas, as taxas de sobrevivência eram de 59,3% para a zidovudina e 59,9% para a nevirapina.
Os investigadores aplicaram os modelos de regressão de Cox ao cohort dos 619 recém-nascidos para saberem qual a influência prognóstica dos vários factores na sobrevivência nos infectados e não infectados. Cesariana, duração do trabalho de parto, ruptura prolongada da membrana, peso de nascimento e sexo não estavam significativamente associados com a transmissão de VIH-1. No entanto a contagem de células CD4 maternas e o RNA viral no plasma estavam significativamente associados com o risco.
Noventa e nove por cento das mães amamentaram os seus filhos. A duração média da amamentação era de 9,5 meses no grupo da zidovudina e 8,8 meses no grupo da nevirapina.
Os cientistas encontraram um risco estimado de transmissão de VIH-1 nos grupos da zidovudina e nevirapina de, respectivamente, 10,3% e 8,1 %, no nascimento; 20,0% e 11,8% às 6-8 semanas; 22,1% e 13,5% às 14-16 semanas; e 25,8% e 15,7 % aos 18 meses.
“A nevirapina estava associada com uma redução de 41% do risco relativo de transmissão até aos 18 meses,” descobriram os investigadores. “Ambos os regimes eram bem tolerados com poucos efeitos colaterais sérios. A nevirapina administrada intrapartum/neonatal diminui significativamente o risco de transmissão de VIH-1 numa população a amamentar no Uganda comparada com um regime curto de zidovudina administrada intrapartum/neonatal. A redução absoluta de 8,2% na transmissão às 6-8 semanas era persistente aos 18 meses de idade. Este regime simples, pouco dispendioso, bem tolerado, tem o potencial para diminuir significativamente a transmissão perinatal de VIH-1 em países menos desenvolvidos”.