Duelo até à morte dentro das células infectadas com HIV

 

No mês passado na 11ª Conferência dos Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI) que decorreu em San Francisco, os cientistas discutiram a descoberta de uma sequência de eventos pouco habitual no sistema imunitário na defesa contra o HIV, uma batalha que se desenrola no interior das células.

O HIV contém apenas nove genes. Um o Vif (virion infectivity factor) aumenta a infecciosidade do HIV. Os investigadores Ann M. Sheehy e Michael Malim da Faculdade de Medicina da Universidade de Pensilvânia observaram o que se passava no interior dos linfócitos humanos quando estes eram infectados por formas mutantes do HIV sem Vif.

Os linfócitos produzem uma substância, a APOBEC3G, que é um membro de uma família de enzimas que corrige o DNA e RNA. Quando o HIV sem Vif infecta um linfócito as moléculas da APOBEC3G juntam-se aos novos vírus em formação. Num processo ainda não totalmente esclarecido a APOBEC3G insere-se dentro do invólucro viral antes do seu encerramento e o vírus sofre protrusão da célula. Quando estes novos vírus se ligam a outras células e as infectam o material que introduzem dentro da célula contém também a APOBEC3G.

Quando se inicia a transcrição dos genes virias de RNA para DNA a APOBEC3G inicia um processo de edição do DNA que o torna inviável e termina a replicação do vírus, quebrando assim o ciclo de infecção. Mas na realidade o HIV na natureza não existe sem Vif, apenas os mutantes criados no laboratório, e a função do Vif é precisamente inactivar a APOBEC3G, com a ajuda de várias proteínas: culina, elonguina e ubiquitina, que conduzem, a APOBEC3G para os lisossomas dos linfócitos onde esta proteína é destruída.

Apesar de tudo os cientistas poderão encontrar uma forma de bloquear o Vif, impedindo a sua interferência com a APOBEC3G, tal substância seria um bom fármaco contra o HIV. Dana H. Gabuzda, investigadora da Faculdade de Medicina de Harvard e no Dana-Farber Cancer Institute, em Boston, referiu «considerar existirem tremendas implicações terapêuticas nesta nova descoberta». Gabuzda e colaboradores estão a investigar em laboratório a descoberta desse tipo de substâncias (que inibam o Vif).