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 Brasil
Aids está entre as principais preocupações de cerca de 50% dos jovens brasileiros, diz estudo
Mauricio Barreira 22 de Outubro 2006, Agência AIDS, Brasil - “Juventude, Juventudes: O que une e o que separa” é o nome do estudo coordenado pela socióloga Miriam Abramovay e por Mary Garcia Castro lançado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). No capítulo sobre saúde e sexualidade, a Aids aparece como a terceira razão para a utilização da camisinha tanto entre os homens como entre as mulheres entrevistadas. No entanto, se forem somados aqueles que citaram a Aids como principal razão para o uso do preservativo aos jovens que escolheram todas as alternativas (prevenir uma gravidez, proteger-se da Aids, proteger-se de outras DST), pode-se deduzir que a Aids está entre as principais preocupações de cerca de 50% dos jovens brasileiros de 15 a 29 anos (24,5 milhões de pessoas) quando eles usam a camisinha para se proteger em uma relação sexual. Na opinião de Abramovay, este é um número bastante significativo e os “jovens demonstraram estar bem informados sobre a Aids”.
A pesquisa foi realizada no final de 2004, em todo o Brasil, dividido em Estados e municípios, para poder fazer uma análise de várias características como gênero, escolaridade, faixa etária, região geográfica, urbano/rural e raça/cor. A pesquisa de campo ficou a cargo do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística – IBOPE, que aplicou 10 mil questionários entre jovens de 15 a 29 anos. Segundo Abramovay, devido à amplitude da pesquisa, os resultados são representativos para serem projetados para toda a população jovem brasileira nessa faixa de idade, o que corresponde a 49 milhões de pessoas. Entre as questões abordadas estão trabalho, cultura, educação, esporte, lazer, família, violência, religião, hábitos e costumes, entre outros. A socióloga falou sobre o estudo em entrevista à Agência de Notícias da Aids.
Agência: Como surgiu a idéia de realizar esse estudo?
Miriam Abramovay: Eu estou pesquisando o tema há uns oito ou dez anos de forma ou maneira diferente. Há dez anos, o grupo de pessoas que realizou o estudo começou a trabalhar na UNESCO a questão de juventude, políticas públicas, sexualidade, gangues e juventudes. Primeiramente, este trabalho gerou o estudo “Políticas Públicas – De/para/com as Juventudes” e agora o “Juventude, Juventudes: O que une e o que separa”. Até então, não existia no Brasil estudo estatístico de quem são esses jovens. Hoje existe um banco de dados bastante extenso que poderá ser usado para análise e dele sairão vários artigos sobre os diversos temas abordados. A OEI está dando continuidade ao estudo de forma qualitativa, junto com o MEC, que deve lançar o artigo referente à Aids. Estamos recomendando à Secretaria da Juventude que repita esse estudo a cada quatro anos para que ele possa estar sempre atualizado.
Agência: No que diz respeito às questões de sexualidade, ligadas às DST/Aids, quais foram as suas conclusões?
M.A.: O número de jovens que tiveram relação sexual antes dos 13 anos é um número alto: 16% do total, o que corresponde a mais de 13 milhões. Por gênero, 22% dos meninos e 9% das meninas. De tudo que eu li - não sou especialista - de tudo que tem saído, isto eu nunca vi. É um dado que chama a atenção. Onde aparece muito a diferença entre as classes sociais e que me chamou a atenção, é a questão dos pais deixarem dormir na casa do namorado (a). Os pais de classe média são muito mais liberais que os das classes menos favorecidas. Na quesito de raça ou cor não tem muita importância, o comportamento é semelhante, com exceção de uma ou outra questão. Em relação ao número de parceiros, há uma diferença significativa entre os gêneros. Entre os meninos, 42% tiveram apenas um parceiro sexual no período de um ano, enquanto entre as meninas este número chega a 82%. Este dado me impactou muito. Em geral, os adultos têm uma imagem crítica e negativa da juventude, o transar e o ficar, a visão é que todo mundo transa com todo mundo. Vivemos em uma época de modernidade, onde o acesso e a utilização de métodos contraceptivos é mais fácil. Aí você faz a pesquisa e, na verdade, é que no último ano 40% do total de jovens tinha tido só um parceiro. Chama a atenção, vem desconstruir um pensamento sobre a juventude. Obviamente, a gente pesquisa até 9 parceiros ou mais, mas é a minoria que fica nesta faixa. A maioria fica entre um e dois parceiros. Outra coisa que chamou a atenção foi a questão da gravidez. Em relação à idade, 18% do total na faixa etária entre os 15 e 17 anos respondeu que já ficaram grávidas ou engravidaram suas parceiras. Quando se observa a mesma resposta por escolaridade, 70% dos jovens que cursaram até a 4ª série do primeiro grau responderam afirmativamente a mesma pergunta, contra apenas 29% dos que têm curso superior. Quando a classe social é analisada em relação à mesma questão, temos 28,5% da classe AB e 60% da classe DE. Para cor e raça a diferença não é significativa. Agora, 7,1% das meninas até 14 anos já engravidaram, ou seja, 900 mil meninas.
Agência: Uma grande porcentagem dos jovens entrevistados declarou ter tido somente um parceiro no período de um ano. Este fato pode tê-los levado a não usarem proteção nas relações sexuais por se sentirem seguros com um único parceiro?
M.A.: Sem nenhuma dúvida. Isto apareceu muita em outra pesquisa que nós fizemos nas escolas. Eles sabem tudo. Existem algumas coisas em Aids com as quais eles se confundem como, por exemplo, achar que podem se prevenir contra a doença tomando vacina ou que podem se infectar usando o banheiro, mas em geral eles tem uma visão sobre seus corpos. Por isso, queremos aprofundar mais na pesquisa qualitativa,. No estudo anterior, as meninas falavam que tinham pouco poder de negociação, não tinham coragem para pedir aos meninos que usassem camisinha e os meninos diziam que esqueciam. E como não era uma relação instantânea, não precisava. A “confiança” (palavra muito usada) era a base da relação.
Agência: Pelo estudo, os jovens, principalmente as mulheres, dizem usar camisinha principalmente para evitar gravidez. Em sua opinião, os jovens estão desinformados em relação às DST/Aids?
M.A.: Acho que os jovens demonstraram estar bem informados sobre a Aids. É interessante que a maioria deles, 44 milhões, conhece os métodos anticoncepcionais. Tanto a menina quanto o menino se preocupam mais com a gravidez . Para elas, o principal método anticoncepcional é a pílula e para eles a camisinha.
Agência: Na questão sobre o motivo para usar a camisinha, somando aqueles que escolheram “prevenir a Aids” como a principal razão e aqueles que responderam “todas as alternativas” (prevenir uma gravidez, proteger-se da Aids, proteger-se de outras DST), chegamos a um índice de 50% dos jovens. Você não acha pouco?
M.A.: Acho que eles se preocupam mais com a gravidez e menos com a Aids , mas é uma preocupação. Para eles, a gravidez é muito importante e quando você pede pra responder uma só, as meninas escolhem a gravidez. O que chama a atenção é a questão das DST, eles são muito preocupados com as DST tanto quanto com a Aids. Agora, porque a maioria deles não respondeu “todas as alternativas”, só saberemos quando fizermos o estudo qualitativo.
Agência: Na sua opinião, as campanhas de prevenção às DST/Aids estão chegando aos jovens?
M.A.:Acho que chegam, são muito bem feitas. Não fizemos nenhuma pergunta nesse sentido. Ao nos aprofundarmos, cada tema pode gerar uma pesquisa. Mas acredito que se fala bastante no assunto dentro da família e na época do carnaval. Precisaríamos comparar isso com pesquisas feitas em outros países. Acredito que é sempre necessário incrementar as campanhas. Se analisarmos todos os dados, 20% não dizem “todas as alternativas” e 1% (300 mil jovens) não sabem ou não opinam. Sempre tem que falar mais, a questão da sexualidade é sempre complicada. Até os adultos têm dificuldade em falar do assunto e os professores, na escola. Em outra pesquisa que fizemos, os alunos diziam que não agüentavam mais palestra, queriam conversar sobre o tema e isto não existe. Em relação à Aids acho que estamos bem. De maneira geral , não está perfeito. As escolas e as famílias poderiam fazer mais. Falta o diálogo. Falta informação e maior abertura dos adultos ao diálogo. Os adultos ainda se sentem incomodados em conversar sobre a sexualidade.
Miriam Abramovay é pesquisadora, socióloga e coordenava pesquisas e avaliações da Unesco até dezembro de 2005. Atualmente, é secretária executiva do Observatório Ibero-Americano de Violência nas Escolas da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) e membro do Conselho Nacional da Juventude (CONJUV). Pesquisa principalmente questão de juventude e violência. Além de Abramovay e Mary Garcia Castro, participaram do estudo Allan Nuno Alves de Souza, Fabriano de Souza Lima e Leonardo de Castro Pinheiro. O estudo “Juventude, Juventudes: O que une e o que separa” está disponível para consulta no site http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001468/146857PORB.pdf.
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