Projecto crianças de rua: uma acção para a prevenção do SIDA -1995-2000 - Luanda
O projecto crianças de rua “uma acção para a prevenção do SIDA”, teve como objectivos Contribuir na promoção e reinserção social de menores marginalizados e em condições difíceis, fazendo respeitar a declaração sobre os direitos das crianças aprovada pelas Nações Unidas e contribuir para a educação sobre SIDA.
O projecto teve inicio em 1995, primeiro com acções informais de caracter educativo e assistência alimentar a mais de 500 crianças que viviam na rua entre a baixa e a parte alta da cidade (casco urbano).
O projecto considerou inicialmente como antecedentes que a maioria dos jovens satisfaz a sua curiosidade ou procura de informações que necessita, relativa a vida sexual ou a saúde e bem estar, junto de colegas da sua idade com experiências de vida semelhantes ou de adultos em quem confiam e com os quais se sentem a vontade. Assim criamos um programa que era capaz de criar uma atmosfera de confiança, de ouvir e trabalhar com os próprios jovens, de utilizar os conhecimentos que já têm e permitir a troca de experiência e apoio mutuo. Com maior confiança em si próprios, acesso a informações correctas e a serviços adequados constatamos que seria mais fácil aos jovens tomarem decisões saudáveis e responsáveis. Está foi a forma como trabalhamos e que nos permitiu atingir o êxito alcançado.
Em abono da verdade a APV foi pioneira neste tipo de actividades com as crianças de rua e o sucesso alcançado serviu sem dúvidas para delinear as formas de como poderíamos trabalhar em Angola com este grupo alvo.
No inicio do projecto reparamos o quanto seria difícil trabalhar com estas crianças, em primeiro lugar é difícil chegar próximos deles, conhece-los, conquistar a sua confiança e difícil também realizar com eles programas formais de educação na rua. Eles para além de não frequentarem a escola estavam envolvidos com prostituição ou eram forçados a trabalhar desde muito novos ou ainda envolvidos com drogas. De qualquer forma estavam socialmente a margem do acesso a bens essenciais ao seu desenvolvimento, ao sistema de educação enfim viviam em ambiente de exclusão social.
Na maioria, estes jovens não contavam com nenhum apoio de adultos, nem tão pouco acesso a informação, cuidados e apoio que lhes permitisse manterem a sua saúde e evitar infecções pelas DST e VIH. Estes jovens estavam igualmente expostos a gravidez precoce.
Assim o projecto funcionou de 1996 à 2000 (durante 4 anos) com actividades a serem desenvolvidas na rua, no seu habitat, com horários flexíveis, na maioria dos casos passamos a trabalhar no período nocturno, já que eles trabalhavam em pequenas actividades para a sua subsistência durante o dia, e em programas integrados, por exemplo em programas que também falavam de drogas, direitos humanos, educação cívica, trabalho, etc.
500 crianças e adolescentes participaram deste projecto. Entre elas cerca de 150 beneficiaram também de formação profissional no “centro de formação da Praia do Bispo” nos ramos de mecânica auto, serralharia, informática, bate-chapa, padaria, electricidade e carpintaria dos quais muitos destes jovens estão já inseridos no mercado do trabalho. Mais de 100 crianças foram reintegradas nas suas famílias dentro dum programa que incorpora igualmente o acompanhamento apôs reintegração e 100 crianças matriculadas nas escolas estatais e privadas.
O projecto contemplou igualmente assistência médica e medicamentosa, com o apoio do UNICEF.
Normalmente estas crianças viviam em grupos de até 15 elementos, eram com este número com que trabalhávamos, tentando fazer com que eles não emigrassem para outras zonas da cidade ou grupos, já que isso faria dissolver o impacto das actividades e teríamos de recomeçar sempre que tivéssemos um novo grupo.
Para todas estas actividades foi necessário em primeiro lugar fazer a adaptação de material tornando-o especifico para este grupo e em segundo lugar a produção de material com a ajuda deles. Isto deveu-se ao facto de que eles usam uma linguagem e gestos próprios, muitos deles não sabiam ler e procuramos descobrir que tipo de material era o mais adequado para eles: os baseados na escrita ou em figuras como bandas desenhadas, cartoons, etc. Na verdade acabamos por fazer um pouco de tudo e para cada grupo especifico.
Destaque para um número de cerca de 80 meninas que praticavam a prostituição na baixa da cidade com a qual fizemos um trabalho especifico com o apoio da ONG nacional FISH. Para além da educação para a prevenção do SIDA, trabalhamos também no planeamento familiar com estas jovens já que era usual muitas delas engravidarem precocemente. Trabalhamos igualmente na defesa do direito da cidadania devido aos constantes abusos que sofriam por parte de adultos, clientes e em alguns casos da policia.
No geral, 10 educadores asseguraram todo este trabalho. Depois de 2 anos de experiência 15 jovens beneficiários do projecto foram treinados como voluntários e passaram a fazer parte da equipa de trabalho do projecto. Conseguimos fazer com isto que fosse mais fácil falar com outros grupos dos quais não tínhamos ainda ganho a sua confiança e passámos a implementar actividades mesmo nos horários em que eles estivessem nas suas tarefas laborais quotidianas. Ao longo e no final do projecto todos estes jovens passaram a dominar a informação sobre o que é o SIDA , suas vias de transmissão e como protegerem-se; um grande número de preservativos foram distribuídos; material de informação produzido e distribuindo;
Os resultados deste projecto serviram para moldar uma “acção-tipo” no que diz respeito ao desenvolvimento de actividades com este grupo especifico. Dentro deste projecto foram inseridas ao longo da sua execução outras parcerias de organizações Internacionais como a GOAL, Save the Children britânica, MOLISV (Itália), CIES (Italiana), Feed the Children (ONG americana), nacionais como o centro da igreja católica, a FISH (fraternidade, infância, solidariedade e humanismo), AJAPRAZ e doadores como UNICEF, UCAH, PAM, as embaixadas da Espanha, Suécia e Inglaterra.
Feliciano Jorge Martins Luanda, 1 de Outubro 2002