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 Cabo Verde
CABO VERDE: Proteger as crianças dos perigos da rua e do HIV
PlusNews 2007-06-12, Cabo Verde - Vestindo um boné branco de basebol e uma bandana também branca, Gerson Fernandes, de 24 anos, dança freneticamente um hip hop para uma sala cheia de crianças, cerca de 40. Todas elas copiam seu passo.
De repente, ele começa a fazer uma série de movimentos acrobáticos e as crianças começam a rir e não conseguem mais imitá-lo.
“Elas gostam do hip hop, mas ensino também o Kuduro, que vem da Angola, e a nossa dança tradicional cabo-verdiana”, diz. “Não somos professor e alunos, somos como amigos e irmãos”, acrescenta.
Fernandes dá aulas no centro Chã de Matias, em Espargos, capital da Ilha do Sal, que oferece a 65 crianças vulneráveis um lugar para praticar esportes, fazer artesanato e desenvolver capacidades pessoais.
Os professores, ou monitores, como são chamados, também encorajam as discussões sobre sexualidade, doenças de transmissão sexual, o que inclui a Sida, e estão sempre disponíveis para conversar com as crianças individualmente.
“As meninas são mais reservadas. Os meninos, às vezes, vêm falar comigo sobre uma menina de quem eles gostam”, disse Fernandes.
“Alguns já têm 16... 17 anos. Eles sempre me contam quando arrumam uma namorada e eu os aconselho a usar o preservativo”, completa.
As crianças do centro falam com naturalidade dos meios de prevenção do HIV.
“Foi na escola, quando eu tinha 12 anos, que eu ouvi falar da Sida pela primeira vez”, disse Stevan Santos, de 16 anos, cuja mãe é faxineira e o pai maçon em Santa Maria.
“Eu acho que não se deve ter medo do vírus, mas sim tomar as precauções necessárias a evitar sua transmissão”, comenta o jovem.
Fugir dos problemas familiares
As pessoas que trabalham com crianças vulneráveis em Cabo Verde fazem uma distinção entre “crianças de rua” e “crianças na rua.”
Nenhuma criança de rua dorme na rua em Espargos, sede do projeto Chã de Matias, que foi iniciado há quatro anos em um dos bairros mais pobres da cidade.
Mas é a situação no seio da família que leva as crianças a passarem muito tempo nas ruas.
Arminda Ramos Fortes Lopes, directora do centro, explica que estas crianças podem ter sido abusadas fisicamente, psicologicamente, serem maltratadas em casa ou virem de famílias separadas.
Segundo ela, cerca de 70 por cento das crianças do centro moram somente com a mãe, que geralmente passa o dia a trabalhar para sustentar a família, o que faz com que as crianças fiquem sempre sozinhas.
“Nas ruas, eles correm todo tipo de riscos, tais como abandonar a escola ou ser abandonados por suas famílias. Se não estivermos preparados, eles também correm o risco de ser infectados pelo HIV”, diz.
Atraídas pelos turistas
Apesar do trabalho do Chã de Matias, um pequeno grupo de meninos dorme nas ruas ou nas praias na cidade costeira de Santa Maria, onde se concentra o turismo da ilha.
Santa Maria é considerada como a área mais perigosa para as crianças da Ilha do Sal; de facto, foram registrados vários casos de prostituição infantil, abuso de drogas e de álcool.
Ana-Paula Brito, representante do Instituto Cabo-Verdiano da Criança e do Adolescente, afirma que é o turismo que atrai as crianças a Santa Maria.
“Sempre existem turistas que acabam dando um Euro a uma criança. Elas podem usar este dinheiro para comer, mas também para pagar vícios como álcool ou drogas”, explica Brito.
“Para muitas crianças, o cheiro das ruas e os Euros que os turistas lhes dão, fazem com que eles hesitem em voltar para casa”, acrescenta.
Mas nem tudo acaba mal. Lopes lembra a história de um menino de Espargos que costumava vadiar pelas ruas de Santa Maria.
“Pedro (nome fictício) tinha começado a seguir os turistas pela cidade a pedir dinheiro. A primeira vez que o vi, ele já tinha praticamente abandonado a escola”, lembra. “Descobri que ele estava tendo problemas em casa... conflitos, alcoolismo. Seu pai agredia sua mãe e as crianças, e seus pais acabaram se separando.”
Em 2003, Pedro começou a frequentar o centro Chã de Matias e desde então a vida melhorou para ele e também para sua família. Ele agora vive feliz em casa com seus pais e irmãos, e está a ir bem na escola.
Quando lhe perguntam sobre as crianças de rua, Pedro não fala directamente de sua experiência.
“Algumas crianças lavam carros para ganhar dinheiro e comprar comida. Outras vão até Santa Maria para ganhar dinheiro dos turistas e às vezes dormem lá, na praia ou na casa de amigos. Mas se eles não conseguem ganhar dinheiro dos turistas, às vezes acabam a roubar”, diz o menino.
Embora o número de crianças vulneráveis em Santa Maria seja muito pequeno comparado à capital, Praia, a situação delas têm algo em comum: a pobreza.
“Quanto mais pobre, maior é o risco de que as famílias se separem e que as crianças acabem nas ruas”, diz Artur Correia, secretário executivo do Comitê de Coordenação do Combate à Sida.
Representantes oficiais da Ilha do Sal reconhecem que a percentagem de população pobre na ilha – a mais próspera do arquipélago – que é de sete por cento, é mais baixa do que a média nacional, de 37 por cento, mas consideram que deveria haver uma melhor distribuição das riquezas.
“Precisamos integrar nosso mercado de trabalho, treinar os jovens e criar mais oportunidades de emprego para eles”, diz Jorge Figueiredo, presidente da administração local da Ilha do Sal.
Lopes acredita que as campanhas de sensibilização que visam informar os pais sobre suas obrigações e os filhos sobre seus direitos ajudaram a tirar muitas crianças das ruas. Mas segundo a directora do Chã de Matias, ainda há muito a ser feito.
“Muitas mães pedem por vagas para seus filhos no centro. Infelizmente, por enquanto a demanda é muito maior do que o que podemos oferecer; gostaríamos de receber mais fundos para poder ajudar mais crianças”, finaliza.
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